Este blog pertence a quem mais não vai querer que partilhar alguma da experiencia adquirida ao longo dos seus anos os quais não são assim tão poucos. Assim fica revelada aqui a sua intenção.

17.10.06

tartufo

«Devo à Providência a graça de ser
pobre;
Tartufo... também gostava de coisas boas....)
Com fama de santo?
«
Não é absurda a vida que eu levo? Dizem que
não gosto da vida. A realidade é outra: eu não gosto da

minha vida.
Julga que não sou sensível às alegrias simples
que são permitidas aos outros? Julga que eu não
gostaria de ter criado um lar?
Que não desejaria dormir sem preocupações,
livre das mil coisas mesquinhas que são o preço de toda
a obra governativa , quando se lhe fica sujeito durante
dezenas de anos?»span>

(in... « férias avec »)
A promessa
O ? ti ? António ?botas? era o feitor de uma quinta
em Santa Comba Dão. De poucas posses tinha um filho
na primária que era um aluno excepcional. Estaria,
quando muito, destinado a ser um bom cavador.
A madrinha, baronesa, dona da quinta e pessoa de
posses e muita influência mandou chamar o feitor:
- António , disse : - temos de dar estudos ao teu
pequeno! É uma pena que não seja aproveitado!
- Mas Vossa Excelência Senhora baronesa bem
sabe que não tenho posses.
- Não te incomode! Põe-se o miúdo no seminário
e deixa-se seguir, sempre lhe darei o apoio que esteja fora
das tuas possibilidades. Mais tarde, se não desejar ser
padre encarregar-me-ei do curso que ele escolher.
O tempo correu. Com a implantação da república
e grande antipatia pelos seminários verificou-se uma
grande baixa nas ordenações. E é assim que ele aparece
em casa dos pais armado do seu canudo de Direito pela
Universidade de Coimbra.
- Meu filho , - diz o velho pai , com lágrimas nos
olhos! Para ser feliz só me falta cumprir a promessa que
nós - eu e a tua mãe - fizemos ao Santo António.
Que promessa ? Pergunta o jovem doutor.
- Prometemos ao santo nosso protector que lhe
daríamos o valor de uma vaca no dia em que acabasses o
teu curso de doutor. E, chorava, o pobre homem deveras
comovido.
- Muito bem! Diz o novo doutor com os olhos a
luzir.
- O meu pai entrega-me a vaca que eu próprio a
irei vender na feira da vila.
No dia seguinte pede à mãe que lhe dispense um
grande galo branco que mete debaixo do braço esquerdo
sob um capote de burel.
Com a mão direita segura a vaca pela soga e dirige-se à
feira.
- Ora muito bom dia senhor doutor!
Cumprimenta-o um conhecido negociante de
gado.
Bons olhos o vejam por cá!
Veio para comprar, ou para vender?
- para vender! Estará interessado?
Reponde-lhe o vizinho:
- Estou sim, essa vaca é um belo exemplar!
Pois bem diz o doutor, vendo barato, apenas por 2$500
reis.
- Está a brincar?
-Não, não estou. Só que, não vendo a vaca sem o galo. E
mostra-lhe o soberbo galo que trás debaixo do capote.
- E quanto pede pelo galo?
-25 Notas ! (de 100)
- O Sr. Doutor manga de mim?
Não! Ou vossemecê compra tudo, ou não compra nada!
Bem, se é assim, um galo e uma vaca por 2502$50
penso que é um preço justo. Fecho já o negócio.
Assim que chega a casa o novo doutor estende uma nota
de dois mil e quinhentos reis , com fundo azul e verso
alaranjado e diz:
- Meu pai faça-me o favor de cumprir a sua
promessa entregando essa nota para o santo da sua
devoção que foi o preço que eu consegui pela sua vaca. E
aproveite a ocasião para entregar à mãe, para guardar,
debaixo do colchão, estas vinte e cinco notas no total de
dois contos e quinhentos mil reis que foi o apurado na
venda do Galo que a mãe me dispensou .
Promessa 2
Botas, o vingativo.
Também se conhece a afeição do moço, nesses
tempos de mocidade, pela filha do patrão do pai. À mãe da
jovem Maria Júlia, porém, ciosa dos pergaminhos da
família, não agradava o caminho que os sentimentos
podiam tomar e quis atalhar o mal. Quando o momento lhe
pareceu asado, a sós com o moço, a orgulhosa senhora D.
Maria Luísa advertiu-o: - Olha António:
- nós somos muito teus amigos, e temos razões
para isso. Tu tens sido um rapaz exemplar e a tua
inteligência deve levar-te longe. Isso agrada-nos muito;
mas, apesar de tudo, lembra-te de que para nós hás-de ser
sempre o filho do nosso feitor.
Naturalmente a filha teve admoestação
correspondente. O rapaz prometeu à senhora que nunca
se esqueceria daquelas palavras; e o certo é que as
relações entre os dois jovens cessaram.
Diz-se que vinte anos depois o Presidente do
Conselho atendeu, certo dia, ao telefone uma senhora cuja
voz ele aliás conheceu:
- Sou Fulana...
Não sei se ainda se recorda de mim... ?
E logo ele:
- - Perfeitamente! Daqui fala o filho do feitor de V.
Excelência.
A promessa 3
A senhora baronesa mandou chamar o filho do
caseiro da quinta de santa Comba para lhe comunicar que
com a sua saída do seminário e em face da perseguição ao
clero poderia contar com ela para continuar os seus
estudos num estabelecimento laico.
Muito comovido choroso e grato prometeu e
jurou a pés juntos reembolsá-la das despesas. Do que ela
o dispensou dizendo ser suficiente paga a continuação do
seu brilhante aproveitamento.
O jovem manteve o seu propósito. Matricula-se na
faculdade de direito da universidade de Coimbra onde se
forma e mais tarde vem a obter cátedra. Mais tarde chega
a ministro. Desiste e volta a ensinar. Regressa a ministro.
Para ficar, mas desta vez com enormes poderes.
Entretanto a sua benfeitora morre...
Aí lembra-se da promessa que fez. Saca de um
bloco de notas em que tinha assente as 63 remessas
mensais de 495$00 no total de 31185$00.Junta os juros
de 10 anos à taxa de 5% perfazendo o total de
46777$500.
Salta da cadeira, chama o motorista e vai assistir ao
funeral da benfeitora.
Antes de fecharem a urna, para o corpo baixar à
terra deposita, de forma muito discreta, nas mãos da
falecida, um raminho de violetas escondendo no seu
interior, enrolado, um cheque do banco FONSECA,
Santos & Viana, preenchido por Esc. 46777$500 e
assinado com aquela sua letra grande e esgalhada.
Por fora, amarrado ao raminho, um envelope com
o cartão do Presidente do conselho:
Eternamente grato.
Vida curta!
Um dia, alguém pensou em oferecer-lhe, como
presente, uma tartaruga.
Uma tartaruga? Que ideia! Onde ia eu meter um
bicho desses?
- É muito simples. Basta um pequeno tanque com
água. Não dá trabalho nenhum, não incomoda,
não faz barulho e pode viver até aos duzentos
anos...
- Ah, não! Não quero. Nós afeiçoamo-nos aos
animais, depois eles morrem e lá ficamos com
pena de os perder...
O lavrador de Santa
Comba
O lavrador de Santa Comba era conhecido pela sua
economia somítica. Conta-se que quando ruiu o muro da
sua quinta mandou chamar um seu vizinho, pedreiro, para
consertar o muro. Este, trabalhando durante sete dias,
com matérias comprados pelo ditador, dá a obra como
concluída.
Este depois de ver a obra a manda chamar o artista.
- Vamos a contas, Joaquim!
A como ganhas, ao dia?
Treze mil reis, senhor professor.
-Ora, então:
Sete dias a 13$000, é igual a
Multiplicando sete vezes por um igual a 7
Multiplicando sete vezes por três igual a 21
Logo: somando, 7+21 = 28
Exemplificando de outra forma
13
X7__
7
21
28
São, portanto, 28$000 (vinte e oito mil reis)
O Joaquim olhava apalermado para a facilidade com que
o professor fazia as contas, mas diz:
Acho pouco! Mas, o Senhor professor é quem
sabe de contas.
Chega a casa. A mulher desanca-o :
-. Meu grande parvo! Como é que tu podes aceitar
28 escudos por sete dias de trabalho?
- Volta lá e vai reclamar ao patrão!
E lá volta o pobre homem.
- Senhor professor! Lá a minha, diz que
vossemecê se enganou, que nunca podem ser 28 mil reis
por sete dias de trabalho a 13 escudos cada dia.
- Por mim, também não acho bem!
Ai, não? Mas quem sabe de contas? Eu, ou a tua mulher?
Vê bem! Uma soma :
Sete dias, sete parcelas.
13
+13
+13
+13
+13
+13
+13
Somando: 3+3+3+3+3+3+3+1+1+1+1+1+1+1=28
- Com os olhos chorosos a dobrar-se até ao chão o
pedreiro balbucia: As minhas desculpas excelência.
Quando chega a casa diz-lhe a mulher!
- Seu asno! Sua grande besta! Não vês que o
Doutor te está a gozar!
-Ai está?
- Pois então vai lá tu entender-te com ele.
Ela assim faz.
- Senhor Professor! Vossa Excelência anda a
mangar de nós e a fazer pouco do meu homem. Que
contas são essas de só pagar 28 mil reis por uma semana
INTEIRA de trabalho?
- O mulher não me faça perder a paciência!
Bem sei que vossemecê só tem a terceira (classe) mal
tirada. Mas é provável que ainda se lembre da prova real
da multiplicação.
Assim sendo, ora veja:
Dividindo 28 mil reis por sete dias dá 13 mil reis.
Repare:
(2)8 : 7
1 1 3
21
0
8 a dividir por 7
igual a um!
Baixando o dois :
21 a dividir por 7
igual a três
resto = zero .
- Está a ver? 28 Escudos a dividir por sete dias dá
13$000 por dia.
PERCEBEU ?
E estendia-lhe o papel enquanto olhava com olhos de falcão
a amarrar caça por cima dos óculos com aros de tartaruga
empoleirados na ponta de um nariz descomunal.
Muito obrigada senhor Professor, até que enfim
compreendo, balbuciava a pobre criatura, saindo dobrada
sobre si, às arrecuas...
A autorização do ministro*
(*historicamente rigorosa))
O Botas era um primeiro-ministro duro. Intitulouse,
a si próprio, PRESIDENTE DO CONSELHO DE
MINISTROS, sem deixar qualquer hipótese, fosse a quem
fosse, de dispor ou governar contra a sua vontade .
Sob a capa de uma vida modesta escondia-se um
imperador.
Obrigou todos os ministros a usarem trajes sóbrios
com o indispensável e clássico chapéu preto. Começou
por impor que nenhum orçamento que implicasse
aumento de despesa seria válido sem o seu visto (uma
espécie de beneplácito)mesmo depois de ser ministro das
Finanças.
Isto, na prática, traduzia-se num poder
inexcedível. Em 1962 os estudantes ferviam. Queriam
comemorar o seu Dia Internacional. Tinham pedido ao
ministro da educação instalações para as suas reuniões.
Este concordou e acedeu.
O velho soube disso, inclusivamente que o ministro já
tinha autorizado.
Convoca o plenário do conselho de ministros E diz:
?- Acredito que a reunião dos alunos para
comemorar o seu dia internacional não vai ter lugar em
qualquer edifício publico nomeadamente no da sociedade
de
geografia. Reputaria de altamente inconveniente
qualquer promessa nesse sentido!
- Não há qualquer compromisso? Pois não,
senhor, ministro??
- E o pobre ministro, borra-se todo de
medo e diz a gaguejar:
- Não! Saiba V Ex.ª Senhor Presidente que não!...de
FACTO... NÃO... NÃO HÁ... QUAL... QUAL... QUER
COM...COMPRO...COMPROMISSO.
e vai a correr ter com os estudantes para dar o dito
pelo não dito ...
Optimista
Logo após as comemorações henriquinas começa
a correr o ano de 61.
Maus começos para o doutor de santa Comba.
Cangalhas em cima da ponta do nariz olhos chispando,
pés quentes por antiquadas botas-de-elástico e joelhos
aquecidos por manta de pura lã de ovelha deslizavam os
dedos ossudos e nervosos pelo mapa-múndi.
Norte do Brasil onde lhe esconderam o Santa
Maria afanado no alto mar pelo intrépido
Henrique. Luanda onde os primeiros desacatos se
iniciavam. Goa que já tinha deixado cair sem honra, nem
gloria, com ordem assassina ao responsável militar para
que se defendesse até a morte e, pior que isso, deixasse
que com ele morressem todos os oficiais e praças já que
não admitia a rendição.
Sinto que só haverá lugar para heróis,
vivos ou mortos.
Nem PENSE NISSO!
Replicou-lhe em telegrama o General Vassalo e
Silva.
Os sues dedos percorriam Bissau; as recentes
independências vizinhas; o mapa de Moçambique onde
tudo parecia calma.
Algum tempo atrás tinha apanhado um grande
susto com um general sem medo (Delgado). Da outra vez
quando o quiseram exportar para a Suiça, ele antecipou-se
(ao Moniz) e embalou quem o queria despachar.
Conta-se que face aos problemas chamou ao seu
gabinete dois dos melhores e mais bem reputados
técnicos da economia sendo que um deles era conhecido
pelo seu proverbial optimismo e o outro pela sua
personalidade azeda e pessimista.
- Meus senhores! Diz a velha raposa fitando-os
por cima dos óculos:
Preciso de um relatório pormenorizado sobre a
economia real do país que sinto a enfraquecer.
Se possível gostaria de ver apontadas algumas
soluções ,
Portanto, aguardo meus senhores que me
apresentem esse relatório dentro de duas semanas, aqui, à
mesma hora!
Assim se fez.
Passado o prazo o velho botas para não ficar muito
chocado pediu ao optimista que começasse.
- Excelência, a situação ainda não é muito grave:
Todavia se não forem tomadas medidas drásticas e
imediatas dentro de dois anos estamos todos a comer
merda!
- E havê-la? Diz lacónica e imediatamente o outro
reputado economista.
As cerejas de Santa Comba
PÁGINAS RÚSTICAS
?Ruim cereja cultiva o Dr. Salazar na sua quinta de
santa Comba?
Era assim que começava o artigo numa coluna de
um jornal regional , órgão oficial da diocese de Aveiro,
chamado o ?CORREIO DO VOUGA .
Foi publicado há umas décadas e muito antes do
25 de Abril. Foi seu autor um técnico agrário ao referir
que determinada vendedora, interpelada pela má
qualidade da fruta que vendia respondia muito senhora de
si:
- Pois olhe que estas cerejas são da quinta do
senhor Doutor.
O que levou o habitual colaborador do jornal a
criticar a acção frutífera do homem de Santa Comba, que,
como se sabe, também vendia com a ajuda da sua adjunta
Maria, ovos e outras produções da quinta.
Conclusões.
- Suspensão imediata do jornal.
Nem rei, nem papa, nem bispo o impediram.
Algumas semanas sem se imprimir Foi movida toda a
influencia da Igreja para retomar a publicação.
O autor foi investigado. Foi obrigado a retractar-se
e a publicar uma declaração que não queria dizer aquilo e
que foi mal interpretado .
Nessa altura um jornal custava um escudo.
O correio do Vouga era um hebdomadário distribuído
principalmente por assinatura .Vendia-se muito pouco.
Cada um dos exemplares desse numero foi procurado e
disputado pelo preço equivalente ao valor de cinquenta
jornais jornais!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
FIM

de como ...

DE COMO FORAM FUNDIDOS, EM EIXO,
NA CALDEIRARIA-MOR DOS PAÇOS DE
D.URRACA, OS CORNOS EM OIRO PARA
ENFEITAR O CAPACETE DE COBRE
MARTELADO, DO SENHOR DOM JOÃO
LOURENÇO DA CUNHA.


Ilustração 1
___________________________________
prologo:
Vamos iniciar este apontamento com uma
referência a um documento curioso aparecido
na demolição de um dos prédios dos casais ( ou
povoa) de D. URRACA, sito no local hoje
conhecido por Arrujo.(1)
Um fragmento de papel dentro de um canudo ,
assim rezava:
Muy grato fico ao meestre polla obra feyta que
vos vou emcomemdar ademtro do mor resguardo
y sigillo que per pouco y ficarei nestas minhas
terras de amtredouro y minho.
He sabido de cienmcia certa que foi minha
molher, domna Lionor, a cuja, se de mim
appartou per cobiça e apegamento a ella de
elrei Fernamdo.
Esto he conmhecido per todollos dessa
freyguisia e logares. Foi o rrial emfeite que em
minha testa fezerom na noute de 5 para 6 de
janeiro de 1372 das calendas de Nosso Senhor
em o paaço da Vessada, em Eyxo.(2)
E infammado pois fiquei!
Non podemdo limpar minha testada, como
convinha a fidalgo de minha homrra y estado,
assi quero pois que vós meestre apos
rreceberdes o saco de livras ( em ouro das
minas do vale do suam(3) fundido nos grandes
fornos das arribas)(4) que mamdo per portador
de minha conmfiamça dele retirades uma decima
para vosso desempenho sendo que delle reste
uma onmça de oiro puro para derreter e fumdir.
Desta porção se farãm 2 metades para que com
cada uma dellas se sirva o meestre moldar com
vossa incomparável arte , o mais belo e numca
visto par de cornos deste reynno.
Outrossim sera o mestre servido de executar,
com as medidas que havi per bem mandar-lhe
pollo mesmo portador, um capacete em bom e
resistente cobre, circumdado per uma coroa de
omde nascerâm os sobreditos cornos.
Saberei assi per este modo lympar minha testada
amtes que devidamente ornnamemtado escape a
fúria delrei e abamdonne o reynno.
Pois que em Eixo mos puzerom, em Eixo os
hei de fumdir!
Que de tudo espero comfidemcia! (8)
Deos salve su mister!
jlc
fim
EIXO, 25 de Agosto
O CORNO DE D.JOÃO
Numa manhã fria da longínqua primavera de
1372, um homem de aparência fidalga, elevada
estatura, rosto fechado , com aspecto duro e
determinado passeava-se na praça pública, em
Lisboa.
Trajava à moda da época e, como convinha à sua
elevada condição armava-se de sua espada, vestia
gibão de veludo vermelho, calções de cetim
negro, golas e punhos em renda.
Calçava botas e luvas em marroquino escarlate e
enfeitava-se com demais adereços.
Em vez do chapéu de adorno, apresentava a sua
cabeça coberta, insolitamente, por um capacete
de cobre martelado, circundado por uma coroa
real e ornamentado com um grande e magnifico
par de cornos em oiro cinzelado!
O Carnaval tinha passado...!
Quem era o brincalhão?
Tratava-se de Dom João Lourenço da Cunha,
fidalgo mui poderoso, senhor de
Entre Douro e Minho, trineto de Afonso III, o
Bolonhês cuja mulher, a Flor de Altura, fora
cobiçada, e não só, por el-rei D. Fernando ?o
Belo? este também trineto do mesmo senhor D
Afonso.
...
... Recuemos no tempo...
...CORRIA O ANO DE 1079...
Dois fidalgos franceses, primos e amigos, de seu
nome D. Raimundo e D. Henrique de Borgonha
resolveram participar nas artes de guerra do Sr.
D. Afonso VI, rei de Leão.
De tal modo se houveram e com tal coragem que
este real senhor decidiu atribuir dois prémios:
D.Raimundo e Conde D .Henrique 1
O Condado da Galiza ao primeiro fidalgo D.
Raimundo desde que este lhe tirasse de casa
para fora a sua filha legitima D.Urraca e,
O condado PORTUCALENSE ao segundo
fidalgo D. Henrique, desde que este não
recusasse a mão da sua bastarda D. Tareja,
nascida de seus amores com D. Ximena de
Muñones.
Teria ainda o Conde D. Henrique de render
homenagens a seu primo e pagar-lhe, nem que
fosse umas garrafinhas ?d?aureus portus? que
produzisse ou vendesse
Vinho Generoso do DOURO 1
Ora, a nós, aqui presentes importa-nos apenas o
Condado Portucalense, cujo nome deriva come
se sabe de um porto de mar (Portus-Cale) situado
no local designado modernamente por Vila Nova
de Gaia.
E NOS IMPORTA PORQUÊ?
Pois por que é nesta data precisa do ano da graça
do Senhor, de 1079, que D.Flâmula, terceira neta
de el-rei dom Ramiro, (Leonês) da poderosa
família dos Sousa do Marnel, fidalga com muita
grana, viúva e sem filhos, decide doar ao
Mosteiro de Pedroso a sua metade em todas as
terras de EIXO e seus arredores;
? excepta medeitate tota de Eixo et Oes quod
sund com omnibus pertinentis suis de mea
congermana dona tarasia fernandi filia de
domno fernando gonçalvo de marnelo uxore
domni menendi egee.?
Nestes tempos as terras de Eixo não tinham
portanto mais que 2 senhores:
Metade pertencente a D.Tarasia ou Tareja
Fernandes e a outra parte a pertencer pela
doação referida ao MOSTEIRO DE
PEDROSO.
O Mosteiro de Pedroso situava-se - ao que se
julga-a algumas léguas de distancia de ?portuscale?,
ou seja, nos domínios do conde D.
Henrique que, desta forma, passa a ter também,
jurisdição sobre as terras de EIXO.
Mais ninguém tinha direitos a um palmo das
ditas terras salvo na qualidade de foreiro ou
rendeiro.
o paço 1
...
Depois das belas cambalhotas de
D.Tareja com o galego D. Peres,
Das tropelias geniais do Sr. D. Afonso, o
Primeiro,
Das amadas de D. Dinis que fez tudo
quanto quis,
Depois finalmente do pinga-amor, Pedro
- Cru; dos seus delírios amorosos; do
envolvimento com a Castro de cujo
belíssimo corpo, extrai, entre outros, um
belo rebento que deu pelo nome de D.
Brites, ou Beatriz, e de que adiante
falaremos;
Eis que nos aparece como dono da vila de
Eixo o Sr. D. Fernando, o Belo. (4)
CORRIA O ANO DE 1367...
Começa de reinar aos 22 anos. De elevada
estatura, imponente, agradável, mavioso e
fraldiqueiro, (como seu pai Pedro, Justiceiro, o
fora,) cedo começou a dar que falar: E começa de
reinar...
A sua meia-irmã D. Brites filha de Inês de
Castro, e de seu referido pai, possuía um palácio
onde se acolhiam as melhores e mais apetecíveis
fidalgas daqueles tempos.
Entre muitas D. Maria Teles viúva de um bom
e honrado homem.
Nova, e em muito bom uso, era por vezes
visitada pela sua irmã D. Leonor ao tempo
casada com o poderoso fidalgo, Dom João
Lourenço da Cunha.
? Começou o Sr. D. Fernando por visitar, de
forma continuada, o reduto de sua meia-irmã, a
senhora Infanta D. Brites, e, por não haver por
perto, infanta ou rainha a que se pudesse
encostar (estava longe a sua prometida Leonor
filha do rei de Aragão) começa de ensandecer e
nasce nele tal desejo que chega a determinar
tomar como mulher a sua referida meia-irmã
COISA ATÉ AQUI NUNCA VISTA!
Cumpre dizer sobre isto que eram os jogos e
falas entre eles, tão a miude misturados com
beijos e abraços e outras brincadeiras que
punham em perigo e suspeita a virgindade da
Infanta.?
Ora numa destas visitas a D. Brites depara D.
Fernando com Leonor de Teles que estava a
passar uns dias na companhia da irmã Maria, no
Palácio da Infanta.
De tal forma ficou fascinado com o gesto, porte,
formosura e perfeição de formas da ? Flor de
Altura? que delirantemente a desejou a qualquer
preço.
A HISTORIA repete-se com o enredo e as
situações vividas por seu pai PEDRO O CRU
que anos antes em transportes e delírios de amor
se envolvia com a bela Inês.
Manda a verdade que se diga que Leonor de
Teles, descendia de reis; (5)
era mulher de fibra, dotada de raro e fino tacto
político.
Fascinante, inteligente, fria e insaciável, trazia
excitados todos os fidalgos da corte.
Recusou as homenagens do Belo.
Dizia prezar mais a seu bom-nome que ser
favorita de rei!
Maquiavélica... resistia. Com a cumplicidade e
ajuda de alcoviteira - a sua irmã Maria, que
pagou com a morte tal parentesco - excitava cada
vez mais o pobre Formoso. Jurava que só
acederia se fosse coroada como rainha de
Portugal.
O que veio a conseguir.
Conde de Barcelos, tio de D. Leonor de
Teles, era o fiel conselheiro do rei.
Tantos e tais serviços prestou que o real
senhor por doação do ano de 1369 lhe
atribuiu os domínios das terras de Eixo,
então em poder da Coroa, como atrás se
refere.
Nesse tempo para um rei, ou para o Clero,
nada era impossível.
Assim, a troco de um punhado de ouro, consegue
cancelar e anular o casamento do Fidalgo Dom
Lourenço Cunha - do qual já nascera um filho -
com o fundamento, anedótico, de que o casal era
parente entre si. De resto o parentesco da D.
LEONOR com D. FERNANDO era exactamente
o mesmo.
Mas a Igreja não se prendia com pormenores
insignificantes, antes se agarrava com unhas e
dentes ao oiro que era muito e bom.
Fica assim, descasada, livre e desembargada a
Sr.ª. D. Leonor, quase em pontos de satisfazer a
sua ambição: - cingir a coroa de rainha!
E começa de reinar... 1
É então que o conselheiro do Rei, o Conde de
Barcelos, D. João Afonso Telo, vendo que nada
podia fazer para impedir a real tolice, oferece ao
seu senhor o paço sito ao norte e defronte da
igreja matriz das terras de Eixo, para, aqui, el-rei
pôr a escrita em dia, ou seja;
No dia 5 de Janeiro de l372 passar a carta
de arras, que ? é como é quem diz, pôr em
nome da teúda e manteúda , a Vila de
Aveiro, Vila Viçosa, Abrantes, Almada,
Sintra, Torres Vedras, Alenquer,
Atouguia e Óbidos e, mais alguns
bocados.
Tudo isto a troco de algumas cambalhotas;
muito caras... como adiante se verá.
Aqui em Eixo passaram umas belas noites
de folguedo, com denguices
E com juras
E amelices,
De promessas
Com ternuras,
Com carícias
Às avessas
E às escuras;
Fugidos da fúria do povo revoltado, em
Lisboa, e, abrigados, no palácio onde
mais tarde o Reitor Diogo de Morais
Cabral, em 1695 viria a edificar a
residência dos párocos.
Nestes terrenos existem restos de
cantarias em calcário, com vestígios de
séculos. (6)
Numa dessas noites passadas em Eixo a
insaciável Teles puxou tanto pelo pobre D.
Fernando que o pôs a TRANSPIRAR.
Do que resultou um valente resfriado.
Vêm a lavrar o assento de casamento no
Convento de Leça do Bailio alguns meses depois
e ainda no ano de 1372.
Do resfriado que apanhou numa noite de luar,
na Balsa, (7) sobreveio-lhe a tísica que de
mistura com algumas beberagens e excessos
libidinosos lenta, mas inexoravelmente, lhe
minaram a saúde
E eram, no seu leito, as hemoptises frequentes, as
suspeições de traição por parte da sádica e
determinada rainha; vingativa a ponto de mandar
executar quem se lhe opunha; cruel por ter
instigado o marido da própria irmã a limpar-lhe o
sarampo, esquecendo os favores a esta devidos
de real achegadeira;.
Preparadora, sem sucesso, da morte do marido da
filha, D. João, rei de Castela.
Enquanto el-rei se finava a rainha Leonor
refocilava no mais desbragado dos adultérios
com o seu valido o Conde Andeiro, o galego.
Muito ? competente?, este libertou D. Fernando,
(o Belo) quase tísico, do esforço dos seus delírios
amorosos.
E era vê-la a rebolar-se com o potente galego em
exercícios também de governo e de poder.
Tão competente que além de sócio o rei o fez
Conde de Ourém.
Teve muitas mercês. Era poderoso e influente.
E D. Fernando, remoía-se, no seu leito, por todo
o mal por ele consentido durante o seu reinado e
sob a má influência daquela rainha.
Nem o hábito de S. Francisco que passou a
envergar, nem as fustigações da sua alma
apagavam a sua tibieza, as suas cobardias e
deserções.
E eram elas:
As faltas ao cumprimento dos contratos,
dois dos quais, nupciais relativos a
promessa de casamento a D. Leonor (de
Aragão) e a D. Leonor (de Castela);
a negociação de vários esposos para a
infanta menor ;
a quebra da moeda, o abandono dos
fracos ;
Finalmente não se apagava o remorso
pela violenta sufocação da revolta
protagonizada pelo alfaiate Fernão
Vasques.
O cadáver deste, baloiçando-se
permanentemente, de uma das mais altas torres,
sem que o seu enfraquecido cérebro deixasse, por
momentos, de reviver as horríveis torturas e a
cena de um homem bom, do povo, que à frente
de 3000 populares teve a coragem de dizer ao seu
rei que não consentia para rainha uma má (por
sinal boa como milho) mulher, para perder um
bom rei!
E ele... fugira...!
E, finalmente, apaga-se em 1383 no meio das
maiores angústias.
Ora a nossa? boa? rainha depois de um apagado e
vil funeral decide, ao fim de trinta dias, fazer
correr lágrimas de crocodilo; vestir crepes, e,
chorar o seu defunto marido. Para comover e
impressionar o povo! E começam as suas
jogadas, enredos e intrigas que culminam com a
morte do seu mais que tudo :-o galego Conde de
Andeiro, às mãos do Mestre de Avis.
Este poupa a rainha e ainda lhe canta a canção
do bandido .Ela, num assomo de honestidade,
deu-lhe com os pés.
Tenta, ainda, com rara habilidade
suavizar o seu nome. Luta por tudo para
retirar, ao menos, a carga negra dessa
fama de horrores granjeada ao longo do
seu reinado.
Promete benesses, chega mesmo a tomar algumas
medidas de agrado popular.
Todavia...tarde demais!
A hora era do ?REGEDOR E DEFENSOR DO
REINO - O MESTRE DE AVIS-.?
Depois de muitos enredos e tropelias termina os
seus dias aprisionada num convento à ordem do
seu genro, o rei de Castela,
Presa por ordem do REI DE CASTELA 1
Acusada pela própria filha de ter tentado, no
mesmo ano, deixá-la - -Órfã, viúva, e,
desamparada.
_______________________________________
_______________________________________
_______________________________________
_______________________________________
_______________________________________
___
EIXO, 25 de Agosto de l991
__________________________
bibliografia consultada
sumario da história de Portugal - tomas
de barros Historia de Portugal ?
António ennes,
Bernardino pinheiro,Eduardo Vidal ,gervasio
lobato,luciano cordeiro e m pinheiro chagas
Crónica de D. Afonso Henriques - frei
António Brandão
Crónica de D. Fernando
- Fernão Lopes
Crónica de d.joao I -
Fernão Lopes
Monografia de eixo - Carlos v
Magalhães
A vila de eixo - Venâncio
Figueiredo
Arras por foro de Espanha· -
Alexandre Herculano
O tempo e a alma - Hermano
saraivam
Dicionário ilustrado de historia de Portugal
Dicionário lello universal
Príncipes portugueses suas grandezas e
Misérias· -aquilino ribeiro
Historia de Portugal -Alexandre
Herculano
Tema histórico escrito por FUAS
ROUPINHO (9)
Para a REUNIÃO DOS ANTIGOS ALUNOS
que frequentaram as segunda e quarta classes
do ano lectivo de 1945/46 na mesma sala de
aulas.
Lido pelas 11 horas, naquela REUNIÃO DE
ANTIGOS ALUNOS da ESCOLA PRIMARIA
DE EIXO.
25.08.1991
-----------------------------------------------------------
-------
-----------------------------------------------------------
-------
1) -lugar da freguesia que teve os seus
privilégios os quais remontam ao tempo
da estada de uma rainha nestas
paragens.
2) -consta ter existido um veio de ouro
entre o Vale do Suão e o Ribeiro.
3) -Foi descoberto recentemente nas
Arribas um forno que data de século
VII.
4) -optou-se pelo cognome de BELO em
vez de formoso por existir actualmente
um famigerado habitante com a alcunha
de ?BELO? que, por coincidência,
reside no tugúrio onde se supõe ter
existido um palácio.
5) -descendente de Pepino ?O BREVE?
Carlos?MAGNO? e D.Afonso
Henriques, entre outros.
6) -existem vestígios em calcareo destas
construções.( De remoção muito
recente!)
7) -local paradisíaco envolvendo uma
lagoa com cerca de mil metros de
comprimento, infelizmente, hoje, muito
degradada .-
8) Qualquer semelhança entre o texto em
itálico e a realidade é pura
coincidência.
9) -nome de guerra do aluno Rui de Pinho
NOTA FINAL:- partes do texto entre aspas
(?) não são da responsabilidade do autor.

Acerca de mim