Este blog pertence a quem mais não vai querer que partilhar alguma da experiencia adquirida ao longo dos seus anos os quais não são assim tão poucos. Assim fica revelada aqui a sua intenção.

17.10.06

de como ...

DE COMO FORAM FUNDIDOS, EM EIXO,
NA CALDEIRARIA-MOR DOS PAÇOS DE
D.URRACA, OS CORNOS EM OIRO PARA
ENFEITAR O CAPACETE DE COBRE
MARTELADO, DO SENHOR DOM JOÃO
LOURENÇO DA CUNHA.


Ilustração 1
___________________________________
prologo:
Vamos iniciar este apontamento com uma
referência a um documento curioso aparecido
na demolição de um dos prédios dos casais ( ou
povoa) de D. URRACA, sito no local hoje
conhecido por Arrujo.(1)
Um fragmento de papel dentro de um canudo ,
assim rezava:
Muy grato fico ao meestre polla obra feyta que
vos vou emcomemdar ademtro do mor resguardo
y sigillo que per pouco y ficarei nestas minhas
terras de amtredouro y minho.
He sabido de cienmcia certa que foi minha
molher, domna Lionor, a cuja, se de mim
appartou per cobiça e apegamento a ella de
elrei Fernamdo.
Esto he conmhecido per todollos dessa
freyguisia e logares. Foi o rrial emfeite que em
minha testa fezerom na noute de 5 para 6 de
janeiro de 1372 das calendas de Nosso Senhor
em o paaço da Vessada, em Eyxo.(2)
E infammado pois fiquei!
Non podemdo limpar minha testada, como
convinha a fidalgo de minha homrra y estado,
assi quero pois que vós meestre apos
rreceberdes o saco de livras ( em ouro das
minas do vale do suam(3) fundido nos grandes
fornos das arribas)(4) que mamdo per portador
de minha conmfiamça dele retirades uma decima
para vosso desempenho sendo que delle reste
uma onmça de oiro puro para derreter e fumdir.
Desta porção se farãm 2 metades para que com
cada uma dellas se sirva o meestre moldar com
vossa incomparável arte , o mais belo e numca
visto par de cornos deste reynno.
Outrossim sera o mestre servido de executar,
com as medidas que havi per bem mandar-lhe
pollo mesmo portador, um capacete em bom e
resistente cobre, circumdado per uma coroa de
omde nascerâm os sobreditos cornos.
Saberei assi per este modo lympar minha testada
amtes que devidamente ornnamemtado escape a
fúria delrei e abamdonne o reynno.
Pois que em Eixo mos puzerom, em Eixo os
hei de fumdir!
Que de tudo espero comfidemcia! (8)
Deos salve su mister!
jlc
fim
EIXO, 25 de Agosto
O CORNO DE D.JOÃO
Numa manhã fria da longínqua primavera de
1372, um homem de aparência fidalga, elevada
estatura, rosto fechado , com aspecto duro e
determinado passeava-se na praça pública, em
Lisboa.
Trajava à moda da época e, como convinha à sua
elevada condição armava-se de sua espada, vestia
gibão de veludo vermelho, calções de cetim
negro, golas e punhos em renda.
Calçava botas e luvas em marroquino escarlate e
enfeitava-se com demais adereços.
Em vez do chapéu de adorno, apresentava a sua
cabeça coberta, insolitamente, por um capacete
de cobre martelado, circundado por uma coroa
real e ornamentado com um grande e magnifico
par de cornos em oiro cinzelado!
O Carnaval tinha passado...!
Quem era o brincalhão?
Tratava-se de Dom João Lourenço da Cunha,
fidalgo mui poderoso, senhor de
Entre Douro e Minho, trineto de Afonso III, o
Bolonhês cuja mulher, a Flor de Altura, fora
cobiçada, e não só, por el-rei D. Fernando ?o
Belo? este também trineto do mesmo senhor D
Afonso.
...
... Recuemos no tempo...
...CORRIA O ANO DE 1079...
Dois fidalgos franceses, primos e amigos, de seu
nome D. Raimundo e D. Henrique de Borgonha
resolveram participar nas artes de guerra do Sr.
D. Afonso VI, rei de Leão.
De tal modo se houveram e com tal coragem que
este real senhor decidiu atribuir dois prémios:
D.Raimundo e Conde D .Henrique 1
O Condado da Galiza ao primeiro fidalgo D.
Raimundo desde que este lhe tirasse de casa
para fora a sua filha legitima D.Urraca e,
O condado PORTUCALENSE ao segundo
fidalgo D. Henrique, desde que este não
recusasse a mão da sua bastarda D. Tareja,
nascida de seus amores com D. Ximena de
Muñones.
Teria ainda o Conde D. Henrique de render
homenagens a seu primo e pagar-lhe, nem que
fosse umas garrafinhas ?d?aureus portus? que
produzisse ou vendesse
Vinho Generoso do DOURO 1
Ora, a nós, aqui presentes importa-nos apenas o
Condado Portucalense, cujo nome deriva come
se sabe de um porto de mar (Portus-Cale) situado
no local designado modernamente por Vila Nova
de Gaia.
E NOS IMPORTA PORQUÊ?
Pois por que é nesta data precisa do ano da graça
do Senhor, de 1079, que D.Flâmula, terceira neta
de el-rei dom Ramiro, (Leonês) da poderosa
família dos Sousa do Marnel, fidalga com muita
grana, viúva e sem filhos, decide doar ao
Mosteiro de Pedroso a sua metade em todas as
terras de EIXO e seus arredores;
? excepta medeitate tota de Eixo et Oes quod
sund com omnibus pertinentis suis de mea
congermana dona tarasia fernandi filia de
domno fernando gonçalvo de marnelo uxore
domni menendi egee.?
Nestes tempos as terras de Eixo não tinham
portanto mais que 2 senhores:
Metade pertencente a D.Tarasia ou Tareja
Fernandes e a outra parte a pertencer pela
doação referida ao MOSTEIRO DE
PEDROSO.
O Mosteiro de Pedroso situava-se - ao que se
julga-a algumas léguas de distancia de ?portuscale?,
ou seja, nos domínios do conde D.
Henrique que, desta forma, passa a ter também,
jurisdição sobre as terras de EIXO.
Mais ninguém tinha direitos a um palmo das
ditas terras salvo na qualidade de foreiro ou
rendeiro.
o paço 1
...
Depois das belas cambalhotas de
D.Tareja com o galego D. Peres,
Das tropelias geniais do Sr. D. Afonso, o
Primeiro,
Das amadas de D. Dinis que fez tudo
quanto quis,
Depois finalmente do pinga-amor, Pedro
- Cru; dos seus delírios amorosos; do
envolvimento com a Castro de cujo
belíssimo corpo, extrai, entre outros, um
belo rebento que deu pelo nome de D.
Brites, ou Beatriz, e de que adiante
falaremos;
Eis que nos aparece como dono da vila de
Eixo o Sr. D. Fernando, o Belo. (4)
CORRIA O ANO DE 1367...
Começa de reinar aos 22 anos. De elevada
estatura, imponente, agradável, mavioso e
fraldiqueiro, (como seu pai Pedro, Justiceiro, o
fora,) cedo começou a dar que falar: E começa de
reinar...
A sua meia-irmã D. Brites filha de Inês de
Castro, e de seu referido pai, possuía um palácio
onde se acolhiam as melhores e mais apetecíveis
fidalgas daqueles tempos.
Entre muitas D. Maria Teles viúva de um bom
e honrado homem.
Nova, e em muito bom uso, era por vezes
visitada pela sua irmã D. Leonor ao tempo
casada com o poderoso fidalgo, Dom João
Lourenço da Cunha.
? Começou o Sr. D. Fernando por visitar, de
forma continuada, o reduto de sua meia-irmã, a
senhora Infanta D. Brites, e, por não haver por
perto, infanta ou rainha a que se pudesse
encostar (estava longe a sua prometida Leonor
filha do rei de Aragão) começa de ensandecer e
nasce nele tal desejo que chega a determinar
tomar como mulher a sua referida meia-irmã
COISA ATÉ AQUI NUNCA VISTA!
Cumpre dizer sobre isto que eram os jogos e
falas entre eles, tão a miude misturados com
beijos e abraços e outras brincadeiras que
punham em perigo e suspeita a virgindade da
Infanta.?
Ora numa destas visitas a D. Brites depara D.
Fernando com Leonor de Teles que estava a
passar uns dias na companhia da irmã Maria, no
Palácio da Infanta.
De tal forma ficou fascinado com o gesto, porte,
formosura e perfeição de formas da ? Flor de
Altura? que delirantemente a desejou a qualquer
preço.
A HISTORIA repete-se com o enredo e as
situações vividas por seu pai PEDRO O CRU
que anos antes em transportes e delírios de amor
se envolvia com a bela Inês.
Manda a verdade que se diga que Leonor de
Teles, descendia de reis; (5)
era mulher de fibra, dotada de raro e fino tacto
político.
Fascinante, inteligente, fria e insaciável, trazia
excitados todos os fidalgos da corte.
Recusou as homenagens do Belo.
Dizia prezar mais a seu bom-nome que ser
favorita de rei!
Maquiavélica... resistia. Com a cumplicidade e
ajuda de alcoviteira - a sua irmã Maria, que
pagou com a morte tal parentesco - excitava cada
vez mais o pobre Formoso. Jurava que só
acederia se fosse coroada como rainha de
Portugal.
O que veio a conseguir.
Conde de Barcelos, tio de D. Leonor de
Teles, era o fiel conselheiro do rei.
Tantos e tais serviços prestou que o real
senhor por doação do ano de 1369 lhe
atribuiu os domínios das terras de Eixo,
então em poder da Coroa, como atrás se
refere.
Nesse tempo para um rei, ou para o Clero,
nada era impossível.
Assim, a troco de um punhado de ouro, consegue
cancelar e anular o casamento do Fidalgo Dom
Lourenço Cunha - do qual já nascera um filho -
com o fundamento, anedótico, de que o casal era
parente entre si. De resto o parentesco da D.
LEONOR com D. FERNANDO era exactamente
o mesmo.
Mas a Igreja não se prendia com pormenores
insignificantes, antes se agarrava com unhas e
dentes ao oiro que era muito e bom.
Fica assim, descasada, livre e desembargada a
Sr.ª. D. Leonor, quase em pontos de satisfazer a
sua ambição: - cingir a coroa de rainha!
E começa de reinar... 1
É então que o conselheiro do Rei, o Conde de
Barcelos, D. João Afonso Telo, vendo que nada
podia fazer para impedir a real tolice, oferece ao
seu senhor o paço sito ao norte e defronte da
igreja matriz das terras de Eixo, para, aqui, el-rei
pôr a escrita em dia, ou seja;
No dia 5 de Janeiro de l372 passar a carta
de arras, que ? é como é quem diz, pôr em
nome da teúda e manteúda , a Vila de
Aveiro, Vila Viçosa, Abrantes, Almada,
Sintra, Torres Vedras, Alenquer,
Atouguia e Óbidos e, mais alguns
bocados.
Tudo isto a troco de algumas cambalhotas;
muito caras... como adiante se verá.
Aqui em Eixo passaram umas belas noites
de folguedo, com denguices
E com juras
E amelices,
De promessas
Com ternuras,
Com carícias
Às avessas
E às escuras;
Fugidos da fúria do povo revoltado, em
Lisboa, e, abrigados, no palácio onde
mais tarde o Reitor Diogo de Morais
Cabral, em 1695 viria a edificar a
residência dos párocos.
Nestes terrenos existem restos de
cantarias em calcário, com vestígios de
séculos. (6)
Numa dessas noites passadas em Eixo a
insaciável Teles puxou tanto pelo pobre D.
Fernando que o pôs a TRANSPIRAR.
Do que resultou um valente resfriado.
Vêm a lavrar o assento de casamento no
Convento de Leça do Bailio alguns meses depois
e ainda no ano de 1372.
Do resfriado que apanhou numa noite de luar,
na Balsa, (7) sobreveio-lhe a tísica que de
mistura com algumas beberagens e excessos
libidinosos lenta, mas inexoravelmente, lhe
minaram a saúde
E eram, no seu leito, as hemoptises frequentes, as
suspeições de traição por parte da sádica e
determinada rainha; vingativa a ponto de mandar
executar quem se lhe opunha; cruel por ter
instigado o marido da própria irmã a limpar-lhe o
sarampo, esquecendo os favores a esta devidos
de real achegadeira;.
Preparadora, sem sucesso, da morte do marido da
filha, D. João, rei de Castela.
Enquanto el-rei se finava a rainha Leonor
refocilava no mais desbragado dos adultérios
com o seu valido o Conde Andeiro, o galego.
Muito ? competente?, este libertou D. Fernando,
(o Belo) quase tísico, do esforço dos seus delírios
amorosos.
E era vê-la a rebolar-se com o potente galego em
exercícios também de governo e de poder.
Tão competente que além de sócio o rei o fez
Conde de Ourém.
Teve muitas mercês. Era poderoso e influente.
E D. Fernando, remoía-se, no seu leito, por todo
o mal por ele consentido durante o seu reinado e
sob a má influência daquela rainha.
Nem o hábito de S. Francisco que passou a
envergar, nem as fustigações da sua alma
apagavam a sua tibieza, as suas cobardias e
deserções.
E eram elas:
As faltas ao cumprimento dos contratos,
dois dos quais, nupciais relativos a
promessa de casamento a D. Leonor (de
Aragão) e a D. Leonor (de Castela);
a negociação de vários esposos para a
infanta menor ;
a quebra da moeda, o abandono dos
fracos ;
Finalmente não se apagava o remorso
pela violenta sufocação da revolta
protagonizada pelo alfaiate Fernão
Vasques.
O cadáver deste, baloiçando-se
permanentemente, de uma das mais altas torres,
sem que o seu enfraquecido cérebro deixasse, por
momentos, de reviver as horríveis torturas e a
cena de um homem bom, do povo, que à frente
de 3000 populares teve a coragem de dizer ao seu
rei que não consentia para rainha uma má (por
sinal boa como milho) mulher, para perder um
bom rei!
E ele... fugira...!
E, finalmente, apaga-se em 1383 no meio das
maiores angústias.
Ora a nossa? boa? rainha depois de um apagado e
vil funeral decide, ao fim de trinta dias, fazer
correr lágrimas de crocodilo; vestir crepes, e,
chorar o seu defunto marido. Para comover e
impressionar o povo! E começam as suas
jogadas, enredos e intrigas que culminam com a
morte do seu mais que tudo :-o galego Conde de
Andeiro, às mãos do Mestre de Avis.
Este poupa a rainha e ainda lhe canta a canção
do bandido .Ela, num assomo de honestidade,
deu-lhe com os pés.
Tenta, ainda, com rara habilidade
suavizar o seu nome. Luta por tudo para
retirar, ao menos, a carga negra dessa
fama de horrores granjeada ao longo do
seu reinado.
Promete benesses, chega mesmo a tomar algumas
medidas de agrado popular.
Todavia...tarde demais!
A hora era do ?REGEDOR E DEFENSOR DO
REINO - O MESTRE DE AVIS-.?
Depois de muitos enredos e tropelias termina os
seus dias aprisionada num convento à ordem do
seu genro, o rei de Castela,
Presa por ordem do REI DE CASTELA 1
Acusada pela própria filha de ter tentado, no
mesmo ano, deixá-la - -Órfã, viúva, e,
desamparada.
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EIXO, 25 de Agosto de l991
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bibliografia consultada
sumario da história de Portugal - tomas
de barros Historia de Portugal ?
António ennes,
Bernardino pinheiro,Eduardo Vidal ,gervasio
lobato,luciano cordeiro e m pinheiro chagas
Crónica de D. Afonso Henriques - frei
António Brandão
Crónica de D. Fernando
- Fernão Lopes
Crónica de d.joao I -
Fernão Lopes
Monografia de eixo - Carlos v
Magalhães
A vila de eixo - Venâncio
Figueiredo
Arras por foro de Espanha· -
Alexandre Herculano
O tempo e a alma - Hermano
saraivam
Dicionário ilustrado de historia de Portugal
Dicionário lello universal
Príncipes portugueses suas grandezas e
Misérias· -aquilino ribeiro
Historia de Portugal -Alexandre
Herculano
Tema histórico escrito por FUAS
ROUPINHO (9)
Para a REUNIÃO DOS ANTIGOS ALUNOS
que frequentaram as segunda e quarta classes
do ano lectivo de 1945/46 na mesma sala de
aulas.
Lido pelas 11 horas, naquela REUNIÃO DE
ANTIGOS ALUNOS da ESCOLA PRIMARIA
DE EIXO.
25.08.1991
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1) -lugar da freguesia que teve os seus
privilégios os quais remontam ao tempo
da estada de uma rainha nestas
paragens.
2) -consta ter existido um veio de ouro
entre o Vale do Suão e o Ribeiro.
3) -Foi descoberto recentemente nas
Arribas um forno que data de século
VII.
4) -optou-se pelo cognome de BELO em
vez de formoso por existir actualmente
um famigerado habitante com a alcunha
de ?BELO? que, por coincidência,
reside no tugúrio onde se supõe ter
existido um palácio.
5) -descendente de Pepino ?O BREVE?
Carlos?MAGNO? e D.Afonso
Henriques, entre outros.
6) -existem vestígios em calcareo destas
construções.( De remoção muito
recente!)
7) -local paradisíaco envolvendo uma
lagoa com cerca de mil metros de
comprimento, infelizmente, hoje, muito
degradada .-
8) Qualquer semelhança entre o texto em
itálico e a realidade é pura
coincidência.
9) -nome de guerra do aluno Rui de Pinho
NOTA FINAL:- partes do texto entre aspas
(?) não são da responsabilidade do autor.

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