Este blog pertence a quem mais não vai querer que partilhar alguma da experiencia adquirida ao longo dos seus anos os quais não são assim tão poucos. Assim fica revelada aqui a sua intenção.

17.10.06

tartufo

«Devo à Providência a graça de ser
pobre;
Tartufo... também gostava de coisas boas....)
Com fama de santo?
«
Não é absurda a vida que eu levo? Dizem que
não gosto da vida. A realidade é outra: eu não gosto da

minha vida.
Julga que não sou sensível às alegrias simples
que são permitidas aos outros? Julga que eu não
gostaria de ter criado um lar?
Que não desejaria dormir sem preocupações,
livre das mil coisas mesquinhas que são o preço de toda
a obra governativa , quando se lhe fica sujeito durante
dezenas de anos?»span>

(in... « férias avec »)
A promessa
O ? ti ? António ?botas? era o feitor de uma quinta
em Santa Comba Dão. De poucas posses tinha um filho
na primária que era um aluno excepcional. Estaria,
quando muito, destinado a ser um bom cavador.
A madrinha, baronesa, dona da quinta e pessoa de
posses e muita influência mandou chamar o feitor:
- António , disse : - temos de dar estudos ao teu
pequeno! É uma pena que não seja aproveitado!
- Mas Vossa Excelência Senhora baronesa bem
sabe que não tenho posses.
- Não te incomode! Põe-se o miúdo no seminário
e deixa-se seguir, sempre lhe darei o apoio que esteja fora
das tuas possibilidades. Mais tarde, se não desejar ser
padre encarregar-me-ei do curso que ele escolher.
O tempo correu. Com a implantação da república
e grande antipatia pelos seminários verificou-se uma
grande baixa nas ordenações. E é assim que ele aparece
em casa dos pais armado do seu canudo de Direito pela
Universidade de Coimbra.
- Meu filho , - diz o velho pai , com lágrimas nos
olhos! Para ser feliz só me falta cumprir a promessa que
nós - eu e a tua mãe - fizemos ao Santo António.
Que promessa ? Pergunta o jovem doutor.
- Prometemos ao santo nosso protector que lhe
daríamos o valor de uma vaca no dia em que acabasses o
teu curso de doutor. E, chorava, o pobre homem deveras
comovido.
- Muito bem! Diz o novo doutor com os olhos a
luzir.
- O meu pai entrega-me a vaca que eu próprio a
irei vender na feira da vila.
No dia seguinte pede à mãe que lhe dispense um
grande galo branco que mete debaixo do braço esquerdo
sob um capote de burel.
Com a mão direita segura a vaca pela soga e dirige-se à
feira.
- Ora muito bom dia senhor doutor!
Cumprimenta-o um conhecido negociante de
gado.
Bons olhos o vejam por cá!
Veio para comprar, ou para vender?
- para vender! Estará interessado?
Reponde-lhe o vizinho:
- Estou sim, essa vaca é um belo exemplar!
Pois bem diz o doutor, vendo barato, apenas por 2$500
reis.
- Está a brincar?
-Não, não estou. Só que, não vendo a vaca sem o galo. E
mostra-lhe o soberbo galo que trás debaixo do capote.
- E quanto pede pelo galo?
-25 Notas ! (de 100)
- O Sr. Doutor manga de mim?
Não! Ou vossemecê compra tudo, ou não compra nada!
Bem, se é assim, um galo e uma vaca por 2502$50
penso que é um preço justo. Fecho já o negócio.
Assim que chega a casa o novo doutor estende uma nota
de dois mil e quinhentos reis , com fundo azul e verso
alaranjado e diz:
- Meu pai faça-me o favor de cumprir a sua
promessa entregando essa nota para o santo da sua
devoção que foi o preço que eu consegui pela sua vaca. E
aproveite a ocasião para entregar à mãe, para guardar,
debaixo do colchão, estas vinte e cinco notas no total de
dois contos e quinhentos mil reis que foi o apurado na
venda do Galo que a mãe me dispensou .
Promessa 2
Botas, o vingativo.
Também se conhece a afeição do moço, nesses
tempos de mocidade, pela filha do patrão do pai. À mãe da
jovem Maria Júlia, porém, ciosa dos pergaminhos da
família, não agradava o caminho que os sentimentos
podiam tomar e quis atalhar o mal. Quando o momento lhe
pareceu asado, a sós com o moço, a orgulhosa senhora D.
Maria Luísa advertiu-o: - Olha António:
- nós somos muito teus amigos, e temos razões
para isso. Tu tens sido um rapaz exemplar e a tua
inteligência deve levar-te longe. Isso agrada-nos muito;
mas, apesar de tudo, lembra-te de que para nós hás-de ser
sempre o filho do nosso feitor.
Naturalmente a filha teve admoestação
correspondente. O rapaz prometeu à senhora que nunca
se esqueceria daquelas palavras; e o certo é que as
relações entre os dois jovens cessaram.
Diz-se que vinte anos depois o Presidente do
Conselho atendeu, certo dia, ao telefone uma senhora cuja
voz ele aliás conheceu:
- Sou Fulana...
Não sei se ainda se recorda de mim... ?
E logo ele:
- - Perfeitamente! Daqui fala o filho do feitor de V.
Excelência.
A promessa 3
A senhora baronesa mandou chamar o filho do
caseiro da quinta de santa Comba para lhe comunicar que
com a sua saída do seminário e em face da perseguição ao
clero poderia contar com ela para continuar os seus
estudos num estabelecimento laico.
Muito comovido choroso e grato prometeu e
jurou a pés juntos reembolsá-la das despesas. Do que ela
o dispensou dizendo ser suficiente paga a continuação do
seu brilhante aproveitamento.
O jovem manteve o seu propósito. Matricula-se na
faculdade de direito da universidade de Coimbra onde se
forma e mais tarde vem a obter cátedra. Mais tarde chega
a ministro. Desiste e volta a ensinar. Regressa a ministro.
Para ficar, mas desta vez com enormes poderes.
Entretanto a sua benfeitora morre...
Aí lembra-se da promessa que fez. Saca de um
bloco de notas em que tinha assente as 63 remessas
mensais de 495$00 no total de 31185$00.Junta os juros
de 10 anos à taxa de 5% perfazendo o total de
46777$500.
Salta da cadeira, chama o motorista e vai assistir ao
funeral da benfeitora.
Antes de fecharem a urna, para o corpo baixar à
terra deposita, de forma muito discreta, nas mãos da
falecida, um raminho de violetas escondendo no seu
interior, enrolado, um cheque do banco FONSECA,
Santos & Viana, preenchido por Esc. 46777$500 e
assinado com aquela sua letra grande e esgalhada.
Por fora, amarrado ao raminho, um envelope com
o cartão do Presidente do conselho:
Eternamente grato.
Vida curta!
Um dia, alguém pensou em oferecer-lhe, como
presente, uma tartaruga.
Uma tartaruga? Que ideia! Onde ia eu meter um
bicho desses?
- É muito simples. Basta um pequeno tanque com
água. Não dá trabalho nenhum, não incomoda,
não faz barulho e pode viver até aos duzentos
anos...
- Ah, não! Não quero. Nós afeiçoamo-nos aos
animais, depois eles morrem e lá ficamos com
pena de os perder...
O lavrador de Santa
Comba
O lavrador de Santa Comba era conhecido pela sua
economia somítica. Conta-se que quando ruiu o muro da
sua quinta mandou chamar um seu vizinho, pedreiro, para
consertar o muro. Este, trabalhando durante sete dias,
com matérias comprados pelo ditador, dá a obra como
concluída.
Este depois de ver a obra a manda chamar o artista.
- Vamos a contas, Joaquim!
A como ganhas, ao dia?
Treze mil reis, senhor professor.
-Ora, então:
Sete dias a 13$000, é igual a
Multiplicando sete vezes por um igual a 7
Multiplicando sete vezes por três igual a 21
Logo: somando, 7+21 = 28
Exemplificando de outra forma
13
X7__
7
21
28
São, portanto, 28$000 (vinte e oito mil reis)
O Joaquim olhava apalermado para a facilidade com que
o professor fazia as contas, mas diz:
Acho pouco! Mas, o Senhor professor é quem
sabe de contas.
Chega a casa. A mulher desanca-o :
-. Meu grande parvo! Como é que tu podes aceitar
28 escudos por sete dias de trabalho?
- Volta lá e vai reclamar ao patrão!
E lá volta o pobre homem.
- Senhor professor! Lá a minha, diz que
vossemecê se enganou, que nunca podem ser 28 mil reis
por sete dias de trabalho a 13 escudos cada dia.
- Por mim, também não acho bem!
Ai, não? Mas quem sabe de contas? Eu, ou a tua mulher?
Vê bem! Uma soma :
Sete dias, sete parcelas.
13
+13
+13
+13
+13
+13
+13
Somando: 3+3+3+3+3+3+3+1+1+1+1+1+1+1=28
- Com os olhos chorosos a dobrar-se até ao chão o
pedreiro balbucia: As minhas desculpas excelência.
Quando chega a casa diz-lhe a mulher!
- Seu asno! Sua grande besta! Não vês que o
Doutor te está a gozar!
-Ai está?
- Pois então vai lá tu entender-te com ele.
Ela assim faz.
- Senhor Professor! Vossa Excelência anda a
mangar de nós e a fazer pouco do meu homem. Que
contas são essas de só pagar 28 mil reis por uma semana
INTEIRA de trabalho?
- O mulher não me faça perder a paciência!
Bem sei que vossemecê só tem a terceira (classe) mal
tirada. Mas é provável que ainda se lembre da prova real
da multiplicação.
Assim sendo, ora veja:
Dividindo 28 mil reis por sete dias dá 13 mil reis.
Repare:
(2)8 : 7
1 1 3
21
0
8 a dividir por 7
igual a um!
Baixando o dois :
21 a dividir por 7
igual a três
resto = zero .
- Está a ver? 28 Escudos a dividir por sete dias dá
13$000 por dia.
PERCEBEU ?
E estendia-lhe o papel enquanto olhava com olhos de falcão
a amarrar caça por cima dos óculos com aros de tartaruga
empoleirados na ponta de um nariz descomunal.
Muito obrigada senhor Professor, até que enfim
compreendo, balbuciava a pobre criatura, saindo dobrada
sobre si, às arrecuas...
A autorização do ministro*
(*historicamente rigorosa))
O Botas era um primeiro-ministro duro. Intitulouse,
a si próprio, PRESIDENTE DO CONSELHO DE
MINISTROS, sem deixar qualquer hipótese, fosse a quem
fosse, de dispor ou governar contra a sua vontade .
Sob a capa de uma vida modesta escondia-se um
imperador.
Obrigou todos os ministros a usarem trajes sóbrios
com o indispensável e clássico chapéu preto. Começou
por impor que nenhum orçamento que implicasse
aumento de despesa seria válido sem o seu visto (uma
espécie de beneplácito)mesmo depois de ser ministro das
Finanças.
Isto, na prática, traduzia-se num poder
inexcedível. Em 1962 os estudantes ferviam. Queriam
comemorar o seu Dia Internacional. Tinham pedido ao
ministro da educação instalações para as suas reuniões.
Este concordou e acedeu.
O velho soube disso, inclusivamente que o ministro já
tinha autorizado.
Convoca o plenário do conselho de ministros E diz:
?- Acredito que a reunião dos alunos para
comemorar o seu dia internacional não vai ter lugar em
qualquer edifício publico nomeadamente no da sociedade
de
geografia. Reputaria de altamente inconveniente
qualquer promessa nesse sentido!
- Não há qualquer compromisso? Pois não,
senhor, ministro??
- E o pobre ministro, borra-se todo de
medo e diz a gaguejar:
- Não! Saiba V Ex.ª Senhor Presidente que não!...de
FACTO... NÃO... NÃO HÁ... QUAL... QUAL... QUER
COM...COMPRO...COMPROMISSO.
e vai a correr ter com os estudantes para dar o dito
pelo não dito ...
Optimista
Logo após as comemorações henriquinas começa
a correr o ano de 61.
Maus começos para o doutor de santa Comba.
Cangalhas em cima da ponta do nariz olhos chispando,
pés quentes por antiquadas botas-de-elástico e joelhos
aquecidos por manta de pura lã de ovelha deslizavam os
dedos ossudos e nervosos pelo mapa-múndi.
Norte do Brasil onde lhe esconderam o Santa
Maria afanado no alto mar pelo intrépido
Henrique. Luanda onde os primeiros desacatos se
iniciavam. Goa que já tinha deixado cair sem honra, nem
gloria, com ordem assassina ao responsável militar para
que se defendesse até a morte e, pior que isso, deixasse
que com ele morressem todos os oficiais e praças já que
não admitia a rendição.
Sinto que só haverá lugar para heróis,
vivos ou mortos.
Nem PENSE NISSO!
Replicou-lhe em telegrama o General Vassalo e
Silva.
Os sues dedos percorriam Bissau; as recentes
independências vizinhas; o mapa de Moçambique onde
tudo parecia calma.
Algum tempo atrás tinha apanhado um grande
susto com um general sem medo (Delgado). Da outra vez
quando o quiseram exportar para a Suiça, ele antecipou-se
(ao Moniz) e embalou quem o queria despachar.
Conta-se que face aos problemas chamou ao seu
gabinete dois dos melhores e mais bem reputados
técnicos da economia sendo que um deles era conhecido
pelo seu proverbial optimismo e o outro pela sua
personalidade azeda e pessimista.
- Meus senhores! Diz a velha raposa fitando-os
por cima dos óculos:
Preciso de um relatório pormenorizado sobre a
economia real do país que sinto a enfraquecer.
Se possível gostaria de ver apontadas algumas
soluções ,
Portanto, aguardo meus senhores que me
apresentem esse relatório dentro de duas semanas, aqui, à
mesma hora!
Assim se fez.
Passado o prazo o velho botas para não ficar muito
chocado pediu ao optimista que começasse.
- Excelência, a situação ainda não é muito grave:
Todavia se não forem tomadas medidas drásticas e
imediatas dentro de dois anos estamos todos a comer
merda!
- E havê-la? Diz lacónica e imediatamente o outro
reputado economista.
As cerejas de Santa Comba
PÁGINAS RÚSTICAS
?Ruim cereja cultiva o Dr. Salazar na sua quinta de
santa Comba?
Era assim que começava o artigo numa coluna de
um jornal regional , órgão oficial da diocese de Aveiro,
chamado o ?CORREIO DO VOUGA .
Foi publicado há umas décadas e muito antes do
25 de Abril. Foi seu autor um técnico agrário ao referir
que determinada vendedora, interpelada pela má
qualidade da fruta que vendia respondia muito senhora de
si:
- Pois olhe que estas cerejas são da quinta do
senhor Doutor.
O que levou o habitual colaborador do jornal a
criticar a acção frutífera do homem de Santa Comba, que,
como se sabe, também vendia com a ajuda da sua adjunta
Maria, ovos e outras produções da quinta.
Conclusões.
- Suspensão imediata do jornal.
Nem rei, nem papa, nem bispo o impediram.
Algumas semanas sem se imprimir Foi movida toda a
influencia da Igreja para retomar a publicação.
O autor foi investigado. Foi obrigado a retractar-se
e a publicar uma declaração que não queria dizer aquilo e
que foi mal interpretado .
Nessa altura um jornal custava um escudo.
O correio do Vouga era um hebdomadário distribuído
principalmente por assinatura .Vendia-se muito pouco.
Cada um dos exemplares desse numero foi procurado e
disputado pelo preço equivalente ao valor de cinquenta
jornais jornais!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
FIM

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